sábado, 1 de março de 2008



A muito tempo, existia um mendigo cego. Vivia na rua pedindo esmola, vivia com fome, vivia com frio. Não enxergava nada, mas podia ouvir os passos das pessoas passando e desprezando-o. As vezes ouvia-se o barulho das moedas caindo.Alguma alma piedosa deixava-lhe alguns trocados que ele sempre usava para comprar qualquer comida que conseguisse.Mas sem enxergar nada até mesmo comprar algo era difícil.Suas roupas eram sujas.Sua aparência era a pior possível.Ele não tomava banho, ele não trocava de roupa. Só estava sentado alí.
Até que algum dia o mendigo ouviu uma voz:
-Eu sei quem você é.Não tenha medo, eu sou do bem. Estou aqui designado por alguém superior para te falar uma coisa.
O Mendigo nada falou e a voz continuou:
-Eu sou um anjo, nós tivemos piedade de sua alma ao ver o seu sofrimento e estamos aqui. Basta acontecer apenas uma coisa e seu destino vai mudar. Mas fique tranquilo que não pra pior. Nós iremos colocar uma placa com alguns dizeres a sua frente. Se alguma pessoa passar e cumprir o que se pede, a sua visão irá retornar e sua vida inteira será glória. E se nenhuma pessoa fizer...nós levaremos a sua alma para morar conosco.
O mendigo concordou. Passaram-se dias...as pessoas passavam.Passavam...Dessa vez não se ouvia nem mais o som das moedas...a fome batia....o frio...O mendigo deitou-se...Fechou os olhos, que só sentia pois sua visão de nada lhe servia. Se encolheu todo...e aguardou os anjos.
Dias se passaram, quando alguém percebeu o corpo do mendigo, gelado, encolhido. Chamou a ambulância mas não havia mais vida. A pessoa viu a placa na frente do mendigo, pegou-a e leu:
Eu quero um abraço.

-Hey, Gabriel, o que você está fazendo?

-Hã? Nada, só...olhando.

-Ah...

-Os humanos têm medo de altura, sabia?
-Nós somos humanos, sabia?
-Mas somos diferentes.

-É, eu sei.

As duas pessoas estavam no topo de um prédio, olhando para baixo, onde a imensa cidade continuava em sua pressa infinita.

-Vamos voltar?

-Pra onde, Miguel?

-Eu não sei, apenas...vamos indo.

-Ela é linda, não é? – O jovem alto, de pele morena, apontava para a janela de um prédio, onde uma pessoa, aparentemente do sexo feminino, conversava ao telefone

-Ah...é Ela?
-Sim...

-Gabriel...você está disposto a continuar com isso?
-É meu carma, Miguel.

-Você a ama?
-Não teria feito nada disso se não amasse.

-Ela é uma humana.

-Você mesmo disse que também somos humanos.

-E você complementou, somos diferentes.

-Isso não impede que eu goste dela.

-Escuta,Gabriel, não vale a pena.

O jovem moreno abaixou a cabeça.

-Nós não choramos, por que?
-Não muda de assunto – disse Miguel

-Não estou mudando, é que tantas vezes eu quis chorar, e não pude...

-Mas por que você quis chorar?

-Os humanos fazem isso quando gostam de alguém.

-Nós somos diferentes. – Miguel sentou-se ao lado de Gabriel

-Eu acho que a amo como os humanos amam.

Miguel não respondeu.

-Ei, o que estão fazendo aí? – Uma outra pessoa chegou ao encontro dos dois.

-Nada, Rafael.

-Vamos então? – Rafael parecia estar com pressa

-Pra onde?
-Não sei.

-Ah, quer saber, vamos. Vai vir Gabriel? – Miguel levantou-se

-Vou...
Gabriel se levantou, e junto com os outros dois, pularam do alto do prédio, alçando vôo logo em seguida.