quarta-feira, 31 de outubro de 2007


O som do despertador me irrita cada vez mais, levantar consegue a proeza de ser cada dia mais insuportável, tomei meu café da manhã, fui para o banho e escovar os dentes, todo dia a mesma coisa, todo dia o mesmo mundo, todo dia temos que estar em uma tão microscópica parte do universo que nem merece ser reconhecida.
Fui para a escola, minha cadela me seguiu até a porta e eu tive que voltar para trancá-la, tudo bem, eu queria andar um pouco mais hoje mesmo, entrei na sala e como a aula ainda não havia começado decidi tentar dormir um pouco sentado, afinal, com o sono que estava não conseguiria prestar atenção na aula mesmo.
Não consegui, NUNCA consigo, isso me deixa com uma raiva tremenda, quando eu tenho uma oportunidade de descançar antes da aula e não consigo, milhares de pensamentos indo e vindo de minha mente, por um momento tive reflexões e até mesmo momentos nostálgicos das vezes que tentava ao máximo fechar os olhos e lembrar de alguem especial, alguem pelo qual eu estava apaixonado.
Professor entra na sala e eu levanto a cabeça da carteira, já havia pensado demais e minhas notas não estão tão satisfatórias a ponto de eu não precisar prestar atenção na aula, mas tudo bem, uma coisa que eu aprendi é que se você quer tentar pelo menos por minutos esquecer os problemas, tente resolver uma conta ou ler um trecho de algum clássico.
Você já leu Castro Alves? Álvares de Azevedo? Me encantei pelos poemas dos dois, um da 2º e o outro da 3º geração do romantismo brasileiro. Álvares é o que mais se parece comigo, tem donjuanismo sonhado, ou seja, em seus mais lindos devaneios se imaginava dono do poder de sedução, assim como eu. Castro Alves, por outro lado, é o poeta do donjuanismo real, suas mulheres estão sempre em seus braços em noites de amor, e quando ele finalmente resolve ir embora, elas suplicam que fique e a domine por mais algum tempo.
Acabou a aula de literatura, que na realidade não prestei muita atenção pois passei a maior parte do tempo analisando um poema em que Castro Alves declama o amor a uma atriz através de suas personagens, contando suas aventuras com as mulheres como se cada uma fosse parte de seu amor, veio a aula de matemática e eu realmente estava com uma certa paciencia para fazer algumas contas, não gosto muito de logaritmo, mas se todos nós fizéssemos apenas aquilo que gostamos, o que seria do mundo, não é mesmo?
Depois de todas as aulas, inclusive no recreio que soube que um vídeo em que eu participo passou em todas as salas, fui embora para casa, e no caminho fui surpreendido por dois marginais:
-Me da um real?
-Não tenho
-Eu sei que você tem, ta com uniforme de escola de Playboy
-Não tenho
-Então passa o óculos, é de sol não?
-Não, é de grau
-É mentira, passa logo, eu sei que não é de grau
Só que a partir do momento em que me abordaram eu não parei de andar, estávamos nos aproximando de uma loja e eles resolveram desistir.
-Você tem sorte, você conhece um menino com um boné do New York todo preto?
-Não
-Ainda vou tomar aquele boné dele
E foram embora.
O mundo é estranho, muito estranho.

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